O amor pode matar? O amor é bom? O amor é mau? Se me
perguntassem o que é o amor a três ou quatro dias atrás, falaria que o amor é poesia, e nada mais que um ou
dois versos.
Ontem ignorei o amor na rua, mas antes
tinha o rejeitado no bar, talvez também no cinema, com certeza assim como na
praça. A Graça, a Bruna, a Julia, a Ana, você. Você? Espero que você não fique
sem graça se for um homem, mas no final quem ficou sem a Graça foi eu. Doeu.
Depois que a fina nevoa da paixão
esvaiu-se, e os primeiros raios de razão cegaram percebi que a Graça me trocou
por 100 reais e uma tarde de felicidade. Me tranquei e calei-me, ao certo tenha
chorado por uns 2 minutos, e uma tarde inteira soluçando. Aonde iria eu superar
um amor platônico cheio de ilusões? Fui à procura de respostas, e de uma dose
de compaixão. Sai de casa feito um louco, por pouco não acabei no botequim da
esquina. Uma pena.
Fui à casa de Proco, apesar de ter um nome
comum meu avô tinha uma verdadeira singularidade. Logo chegando tentei arrancar
mais algumas respostar de minha enciclopédia particular. O vi tão empoeirado
quanto um livro velho, da maneira que estava sentado parecia estar em sintonia
com sua poltrona. Confesso que não distinguia quando estava dormindo ou quando
tentava enganar a morte.
Enfim, sentei ao seu lado, e perguntei
meio sem graça... Sem Graça. Por cem Graça? Doeu.
-
Vô o que é o amor? - Perguntei.
(Um longo silêncio habitou o local por
minutos, talvez estivesse dormindo quando perguntei. Passei intermináveis 15
minutos olhando para aquele semblante enrugado e monótono, cheio de segredos).
- Tu não sabes o que é o amor? Então tu
não sabes quem tu és. - Respondeu.
Talvez naquele exato momento ele se
debatesse por dentro esperando que eu falasse algo, mas só baixei a cabeça
ainda meio assustado, pois minhas esperanças de respostas já haviam acabado
depois que ele parou de respirar por uns instantes.
- O amor é como um dia ruim que acaba
ficando um pouco pior. - Completou.
Talvez estivesse um pouco bêbado, isso me
torna um mentiroso, contudo não garanto de ter dado uma passadinha naquele
botequim. Imaginava como esse velho que não conseguia nem falar direito estava
me fazendo mais triste. E eu ainda não tinha esquecido a Graça.
- Talvez se o amor fosse fácil e gostoso
como ouço falar dele, talvez assim ele pudesse gritar, e parasse de se debater
a cada palavra entoada por minha mente. Com o amor eu não morreria enforcado
com minhas próprias palavras. - Finalizou.
Daí que eu percebi que não existem diversos tipos de amor, da
mesma forma como não existem dois tipos de paixão, outras cinco maneiras de
angústia, ou sete categorias de alegria. O amor é singular, como todos os
outros sentimentos. Quanto a Graça, descobri o porquê do ditado ‘’Nem de
graça’’. Pois isso me custou Cem reais.
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